sábado, 14 de setembro de 2013

Fisiologia no futebol - abordagem básica

A fisiologia do esporte aplicada no futebol.

O futebol é um esporte caracterizado por atividades intermitentes. Ele exige grande demanda física, o que requer elevado grau de habilidade técnica, força, resitência, velocidade e agilidade. "Trata-se de um jogo com bastante trabalho anaeróbico seguido de exercícios contínuos de corrida." (RHOADS, 1986).
O consumo de grandes quantidades de substratos energéticos também é muito requerido nesse esporte que exige níveis altos de produção de energia aeróbia e anaeróbia.

Os estoques de fosfocreatina nas células musculares do tipo II fornecem a maior parte da energia necessária para exercícios de curta duração (até 10 segundos) e também quando há mudanças na intensidade do exercício que está sendo realizado. Consequentemente, quando esses exercícios são realizados com um pequeno intervalo de tempo entre eles, os estoques de creatina fosfato serão depletados, não havendo energia necessária para os exercícios seguintes, pois o tempo de recuperação é curto.

A ressíntese de fosfocreatina depende da disponibilidade do oxigênio durante a recuperação. Por isso, atletas com um alto VO2 terão maior capacidade de fornecimento de oxigênio para os músculos exercitados, tendo uma maior ressíntese de fosfocreatina no músculo durante o período de recuperação. Portanto, isso significa que em exercícios intermitentes, o indivíduo que tem um VO2 mais alto possui melhor desempenho, tendo um melhor aproveito.

Os carboidratos e os lipídios são os principais substratos usados no metabolismo oxidativo do músculo. Há uma mistura na utilização de carboidrato e lipídio durante o exercício determinada principalmente pela intensidade e duração do exercício.
Gráfico demonstrando a utilização da gordura de acordo com a intensidade do exercício.
 O fígado libera glicose suficiente para manter e, até mesmo, elevar a glicose sanguínea durante o jogo. 
Por isso, os estoques de glicogênio, tanto muscular quanto hepático, são importantes para o desempenho no futebol.

Aos poucos, esse substrato vai chegando à depleção. No segundo tempo de um jogo, por exemplo, a concentração é bem menor, fazendo com que o atleta diminua sua capacidade de corrida e força, reduzindo sua eficiência na partida.


Quanto aos lipídios, seu principal componente é o ácido graxo livre. Sua utilização para oxidação é maior durante exercícios de intensidade de baixa a moderada. Quando o exercício é prolongado, a lipólise ocorre em intensidades altas.


A concentração de ácido graxo livre no sangue aumenta durante uma partida de futebol, principalmente na segunda etapa do jogo.


Estudos indicam que a proteína contribui com menos de 10% da produção de energia no futebol. Sendo assim, os aminoácidos são considerados fonte auxiliar de combustível. "Além disso, a oxidação de aminoácidos é inversamente proporcional à disponibilidade de glicogênio muscular." (LEMON, 1994).



Utilização de gorduras e glicoses de acordo com a intensidade do exercício.
Tanto os exercícios contínuos, quanto os intermitentes, são usados no treinamento do futebol a fim de facilitar as adaptações fisiológicas para melhorar o desempenho. "Os exercícios intermitentes podem acarretar maior demanda no sistema cardiovascular do que exercícios contínuos quando realizados em uma mesma intensidade." (DRUST, 2000).

As demandas fisiológicas de cada jogador dependem muito de sua função em campo. Por exemplo, um meio-campista requer maior trabalho aeróbio do que outras posições, já que este faz a ligação entre a defesa e o ataque, necessitando assim, de uma maior potência aeróbia.


A alta potência aeróbia e uma porcentagem elevada de oxigênio no limiar anaeróbio em futebolistas são alguns fatores considerados preditores de boa capacidade do organismo para tolerar a longa duração do jogo. Dessa maneira, o jogador tem uma maior eficiência de movimento, sem se cansar rapidamente, pois seus músculos estarão mais bem capacitados para captar e utilizar maior volume de oxigênio e, consequentemente, maior produção de energia durante a partida, com maiores estoques de glicogênio muscular. (GUERRA; BARROS; 2004, p. 4)


O sistema aeróbio é a principal fonte de geração de energia durante um jogo de futebol. E o consumo máximo de oxigênio (VO2max) tem por definição ser o volume máximo de oxigênio que pode ser transportado e utilizado para o metabolismo aeróbio. "A capacidade aeróbia expressa a habilidade de se manter um exercício durante um período e é sinônimo de endurance." (REILLY, 2000). 


Com a redução dos estoques de glicogênio muscular, parte do substrato energético vem do metabolismo dos lipídios. Jogadores com melhor capacidade aeróbia tendem a poupar o glicogênio muscular durante exercícios de intensidade moderada para utilizá-lo em momentos finais, mais decisivos do jogo. Esse efeito poupador de glicogênio permitirá ao jogador correr distâncias maiores sob uma intensidade maior antes da diminuição dos estoques de glicogênio. (WISLOFF, 1998).


Chegando ao limiar anaeróbio, definimo-nos como sendo a intensidade do exercício que antecede um aumento súbito do lactato no sangue.


Um limiar anaeróbio elevado, isto é, uma fração elevada do VO2max sem que ocorra acúmulo demais de ácido láctico no sangue, tem grandes implicações funcionais. Isso significa que o atleta está mais bem preparado para realizar atividades de maior intensidade por períodos de tempo mais prolongados.


Essa potência ajuda na rapidez do jogador que pode ser decisiva em jogos. Principalmente para os goleiros e laterais que precisam de energia de alta intensidade em alguns momentos do jogo onde o exercício se torna intenso. Como, por exemplo, em uma defesa de uma bola rápida e forte, ou em um sprint de um lateral desde sua área até a área do time adversário.


A concentração do lactato é um indicador de produção de energia anaeróbia. Sua concentração no sangue é menor no segundo tempo do que no primeiro, já que se diminui a frequência e duração de exercícios de alta intensidade. Mas isso nem sempre é regra, uma vez que depende muito do tipo de jogo, motivação do jogador, táticas e estratégias, ou até placar do jogo.


Isabela Guerra e Turibio Leite de Barros afirmam no livro Ciência do Futebol (2004) que o futebol moderno exige um jogador forte, rápido, capaz de vencer resistências, suportar cargas intensas e, ao mesmo tempo, ter pouca fadiga durante o jogo. Logo, o atleta precisa manter força, velocidade, resistência e flexibilidade de forma conjunta.


A composição corporal é um fator muito importante no condicionamento de um jogador a ser analisada caso a caso. A gordura corporal atua como peso morto em atividades em que a massa corporal é levantada várias vezes contra a ação da gravidade. O jogador de futebol profissional tem em média 1,79 de altura, pesa 76 quilos, tem de 25 a 27 anos e percorre em média 10,8 quilômetros durante o jogo. Andam a maior parte do tempo de partida (40,4%), correm em baixa intensidade em 35% do tempo, ficam parados em 17,1%, e correm em alta intensidade em 8,1% do jogo. 

BOLEIROS SOB MEDIDA - Turibio Leite
Anexo: O estudo realizado em quatro partidas do time paranaense mostram alguns dados interessantes, que foram publicados em um artigo pela equipe do professor Sérgio Cunha. A queda de produção dos jogadores do primeiro para o segundo tempo chega a ser de 7% - e já é percebida a partir de oito minutos após o intervalo.
E foram os laterais os que mais se movimentaram: 10.642m por jogo. Em seguida, vieram os meias (10.598m) e os volantes (10.476m). Num nível abaixo, apareceram os atacantes (9.612m) e os zagueiros (9.029m).  
A maior parte da distância percorrida em campo pelos jogadores se deu numa velocidade baixa - andando ou em ritmo de jogging. Foram 5.537m de um total de 10.012m (55%). A velocidade máxima (ou seja, os sprints) representa apenas 4%. Confira abaixo a estatística, que levou em consideração 55 atletas que disputaram os 90 minutos.  

Distâncias percorridas pelos jogadores em uma partida: (em metros) 
A tabela mostra a distância percorrida pelos jogadores em cada faixa de velocidade, de V1 a V5
Anexo: Goleiros percorrem em média 4.000 metros por partida 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

LIVRO: FUTEBOL E SEUS FUNDAMENTOS



FUTEBOL E SEUS FUNDAMENTOS

Autores: Paulo Sérgio Martins, Marco Aurélio Paganella

Resenha

O livro trata dos Fundamentos do Futebol em sentido lato e não apenas dos Fundamentos do jogo propriamente dito.
Trata-se de um jogo de palavras com o objetivo de chamar a atenção dos estudiosos que já atuam na área e dos que têm interesse em trabalhar com o Futebol para 26 temas que, de uma forma ou de outra, poderão auxiliar no bom andamento e desenvolvimento do trabalho dos profissionais e/ou dos aspirantes a tal. Vinte e seis é um número razoável e considerável, até porque tem um simbolismo importante, haja vista o fato de que uma equipe de Futebol Profissional trabalha sempre com um número de jogadores em torno disto, um pouco mais, um pouco menos. Todavia, o livro não versa somente sobre fatores ligados ao Futebol Profissional; ao contrário, é bem mais amplo e procura abranger todos os aspectos, públicos e temas que fundamentam o trabalho no Futebol.
Com base em dois fatores (a: referencial bibliográfico fidedigno; e b: um bom tempo de estudo, pesquisa, trabalho e experiência no Futebol) os autores discorrem no livro com relativo conhecimento de causa e segurança sobre os assuntos.
A intenção não é esgotar definitivamente o conteúdo de todos estes 26 (vinte e seis) assuntos, mas, sim, mostrar os principais elementos que se referem a cada um deles de modo a produzir no mínimo dois efeitos, quais sejam, de um lado para esclarecer pontos pouco conhecidos ou mesmo desconhecidos e ignorados para alguns e, de outro, para suscitar e estimular os que já estão atuando para o aprofundamento no estudo e na pesquisa, sem jamais abdicar dos aspectos práticos inerentes ao Futebol. Até porque a característica marcante do trabalho no Futebol é a conjugação perene entre teoria e prática, vale frisar, uma complementa a outra; uma depende da outra.
Tenha-se presente que o desiderato dos autores desta obra é apenas e tão somente contribuir modestamente da melhor maneira possível para o desenvolvimento e para o sucesso no estudo e no trabalho dos acadêmicos e colegas de profissão, êxito este que, uma vez concretizado, certamente também será o nosso… se as pessoas estiverem bem, nós também estaremos… Prof. Paulo Sérgio Martins e Prof. Marco Aurélio Paganella 

Principais temas abordados:

• Histórico do Futebol, Futsal, Futebol Society e Futebol de Areia;
• O Futebol como fenômeno social, cultural e econômico no Brasil e no mundo;
• Infraestrutura, planejamento e filosofia de trabalho;
• Estrutura de aula e/ou de um treino de Futebol;
• Aquecimento;
• O Futebol visto e entendido como Ciência;
• Aspectos Físicos;
• Fundamentos técnicos individuais ofensivos;
• Fundamentos técnicos individuais defensivos;
• Aspectos táticos e de organização e sistematização coletiva;
• Aspectos psicológicos e emocionais;
• Jogos da cultura popular e corporal voltados ao Futebol;
• Jogos especialmente criados para a aprendizagem, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento do Futebol;
• Goleiro;
• Métodos de trabalho;
• Posturas e condutas adequadas do Professor;
• Fases do desenvolvimento do Futebol pelas faixas etárias e quadro de estudo comparativo;
• Protocolo de avaliação técnica completo e resumido;
• Torneio individual de Futebol: Regulamento, considerações e planilha de pontuação;
• Regras e Regulamentos: conceitos e exemplos de redação;
• Modelos e projetos de organização estrutural e empresarial de trabalho no Futebol e quadro de estudo comparativo e exemplificativo;
• Informática, sites, softwares, tecnologias e programas de computador aplicados ao Futebol;
• Marketing esportivo e Administração esportiva;
• Aspectos legais e jurídico-legislativos;
• O Futebol na Escola como instrumento de formação e de educação;
• Lesões no Futebol: breve descrição, primeiros socorros e reabilitação.

Parabéns aos professores Paulinho e Paganella!

Abraço  Ronaldo Castro

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Pliometria no treinamento desportivo

Pliometria: a ousadia no treinamento desportivo
      
A eficiência do treinamento pliométrico contribui muito no rendimento desportivo, e o ideal é utilizá-la apenas como um adicional a outros métodos de força muscular.      

Nos anos 60, o pesquisador russo Verkhoshansky revolucionou o treinamento desportivo ao criar o modelo de periodização em blocos, pois confrontou o modelo clássico de Matveev. O modelo tinha como principal característica as cargas concentradas de força.Segundo Riehl (2004), "os exercícios desenvolvidos por Verkhoshansky foram amplamente difundidos como um método de melhoria de força e explosão, cuja fundamentação teórica desenvolveria a habilidade reativa do aparelho neuromuscular".

Um dos métodos mais difundidos fora o treino pliométrico, sendo "o russo o primeiro investigador soviético a propor uma fundamentação teórica para a utilização desse tipo de treinamento" (Moura, 1988).
O exercício pliométrico é caracterizado pela contração concêntrica imediatamente após a contração excêntrica, resultando numa capacidade de gerar potência máxima em um movimento (Moura, 1994; ID, 1988; Neto et al. 2005; Fox, Foss & Keteyan, 2003; Riehl, 2004, Weineck, 2000).
Várias nomenclaturas são dadas a esse treino: treinamento de choque, força de velocidade, treinamento reativo, treinamento de saltos, reações elásticas, ciclo flexão-extensão (CFE), ciclo alongamento-encurtamento (CAE) e ciclo excêntrico-concêntrico (CEC).

A pliometria é o método mais disseminado; para Riehl (2004) é "o meio mais rápido para o desenvolvimento de força, velocidade e potência, principalmente dos saltos que necessitam de força rápida".
Em sua pesquisa, Gracelli (1983) mostrou que o treino pliométrico foi mais eficiente quando comparado ao treinamento com pesos, na melhoria do salto em distância. Inclusive, a pliometria tem um custo menor aeróbio.

Em Moura (1994), "a eficiência mecânica 'normal' do homem é de aproximadamente 25 %, ou seja, a cada 100 joules de energia química, 25 se convertem em energia mecânica (movimento), e os outros 75 em energia térmica (calor) - uma energia que não nos interessa em termos de desempenho. Quando o CEC é ativado, essa eficiência aumenta para perto de 50%".

Weineck (2000) diz que o treino pliométrico é para esporte de alto rendimento, e supõe uma força bem desenvolvida a um aparelho motor. A força que desempenha um papel importantíssimo na execução da técnica. Já para Badillo e Ayestaran (2001), a falha técnica é proveniente da falta de força e não de coordenação ou habilidade.

O embasamento fisiológico para tal eficiência do método pode ser o recrutamento de unidades motoras e/ou o reflexo miotático e/ou o acúmulo de energia elástica (Neto et al., 2005; Moura, 1988; ID 1994; Durward et al., 2001).
A potenciação mecânica deve-se a ativação das unidades motoras adicionais ou uma maior velocidade de contração devido à fase excêntrica.
O reflexo miotático seria um mecanismo de facilitação provocado pelo alongamento dos fusos musculares e uma resposta de contração dos mesmos (Moura, 1994), e com o treinamento maior e a sensibilidade dos órgãos tendinosos de Golgi, maximizando a resposta miotática (Neto et al., 2005). De acordo com Neto, 2005, e Moura, 1988, o treinamento deve ser executado com pequenas amplitudes (ordem de 6% a 8% o alongamento) de movimento articular para o aumento da quantidade de força, e deve prover tempo necessário para o acúmulo de energia potencial elástico, mas rápido para não dissipar a energia elástica em energia térmica.
E a potenciação elástica se origina do "músculo contraído após ser alongado por uma força externa, pois o trabalho mecânico é absorvido pelo músculo, e que parte deste trabalho pode ser armazenada como energia potencial, nos elementos elásticos que se encontram em série com os componentes contráteis, e que pode ser utilizada para aumentar a produção de energia mecânica durante o encurtamento ativo do músculo" (Cavagna,1977 apud Moura 1988; ). Apesar de três vias explicativas para o maior potencial do CEC, o mecanismo responsável não está explicado (Fleck e Kraemer, 1999).
Então, o CEC é um trabalho de alta exigência neuromuscular. "O contato inicial do pé com o solo produzirá um grau de carga muito rápido, e forças muito acima de 200% do peso corporal serão experimentadas. Quando o corpo chega ao solo, ocorre o contato inicial com a planta do pé seguido por um aumento muito rápido da força na medida em que a perna e o resto do corpo desaceleram rapidamente da velocidade para baixo" (Durward et al., 2001).
As forças de aterrissagem ocorrem no sentido vertical e horizontal. A articulação do joelho é a maior responsável para acomodar as forças de aterrissagem sobre uma perna, e momentos muito grandes são apresentados.
Embora o tempo de acomodação seja pequeno, o grau de carga pode ser excessivo para a articulação do joelho, pois é improvável que os músculos possam reagir rápido para produzir equilíbrio. "Sugere-se que qualquer indivíduo executando exercícios do CAE deveria ser capaz de realizar agachamento com, pelo menos 1,5 a 2 vezes o peso do corpo. (Flecke e Kraemer, 1999)".



Todo treino desportivo possui seus riscos. Educadores e praticantes preocupam-se com o potencial risco de lesão no CEC. São várias as causas de preocupação do treinamento pliométrico, desde o aquecimento inadequado e prévio treinamento de força insuficiente até calçados e pisos impróprios. O Colégio Americano de Medicina e Esporte reconhece o método, e indica até as crianças e jovens, desde que bem prescritos.



Desconfortos ósseos, musculares e articulares podem acompanhar o treino pliométrico (Moura, 1988; Riehl, 2004). Para Durward et al(2001), é possível que ocorram lesões graves a longo prazo. Buscando a prevenção, a iniciação da pliometria deve ser realizada em superfícies macias para que o amortecimento dos saltos não provoque lesões na musculatura esquelética, porém não deve ser muito macias para evitar alongamento excessivo.
Enfim, o treino pliométrico possui grande eficiência, mas é apenas um adicional aos outros métodos de força muscular.

Bibliografia
1- BADILLO, J. J. G.; AYESTARÁN, E. G. Fundamentos do treinamento de força: aplicação ao alto rendimento. Tradução: Márcia dos Santos Dornelles. 2 a ed., Porto Alegre: Artemed, 2001.
2- DURWARD, B. R.; BAER, G. D.; ROWE, P. J. Movimento funcional humano- mensuração e análise. São Paulo: Manole, 2001, p. 137.
3- FOSS, M.L.; KETEYIAN, S. J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. . 6a ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
4- FLECK, S. J.; KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 2 a ed., Porto Alegre: Ed. Artes Médicas Sul, 1999.
5- MOURA, N. A. Treinamento pliométrico: Introdução as bases fisiológicas, metodológicas e efeitos do treinamento. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.2 (1), p. 30-40, 1988.
6-MOURA, N. A. Recomendações básicas para a seleção da altura de queda no treinamento pliométrico. Boletim IAF - Centro Regional de Desarollo, Santa Fé, n.12, 1994.
7- NETO, C. L. G. et al. A atuação do ciclo alongamento-encurtamento durante ações musculares pliométricas. Journal of Exercise and Sport Sciences, v.1, n.1, p.13-24, Jan./Jul., 2005.
8- RIEHL, O. Efeitos dos exercícios pliométricos associados à suplementação aguda de creatina na composição corporal e na potência anaeróbia. 2004, 110f. Tese (doutorado) - Universidade de Brasília, Faculdade de Ciências da Saúde, 2004.
9- WEINECK, E. J. Futebol total: o treinamento físico no futebol. Tradução: Sérgio Roberto Ferreira Batista. Guarulhos-SP: Phorte Editora, 2000.
* Preparador físico e fisiologista da categoria juniores do Brasília Futebol Clube e do Departamento de Esportes Universitários da UPIS.
felipecasilva@hotmail.com

sábado, 19 de janeiro de 2013

Lesões no Futebol

As lesões decorrentes do futebol: o que pode ser feito para minimizar esta situação?
A exigência cada vez maior da capacidade física aumenta o risco de lesões musculares.

A capacidade de adaptação do sistema neuromuscular para a execução dos movimentos em diferentes contextos do futebol é um dos fatores determinantes para uma execução eficiente e sem riscos de surgimento de lesões de qualquer natureza. Em todos os esportes, existem lesões típicas que estão diretamente relacionadas aos movimentos envolvidos em sua prática. No futebol, a grande maioria é de natureza leve a moderada, e as mais frequentes são as contusões musculares e as entorses das articulações.

A incidência elevada de lesões no futebol solidificou o interesse dos profissionais de saúde do esporte para a realização de estudos a fim de avaliar os acometimentos sofridos pelos atletas. O entendimento das causas das lesões torna-se imprescindível no futebol atual e uma recuperação bem conduzida e realizada em todas as suas etapas é essencial.

Uma boa recuperação e período de tratamento podem fazer com que o atleta consiga obter o mesmo rendimento ou até melhor do que anteriormente à lesão; é lógico que existem fatores psicológicos a serem considerados, principalmente no período pós-recuperatório de lesão, observado através do comportamento receoso do atleta em se lesionar novamente, e uma incidência desta mesma lesão gera preocupação e pode em certos casos encerrar a carreira de um jogador precocemente, ou tornar o jogador inseguro em efetuar lances que outrora fazia de maneira mais "natural".

A lesão desportiva é definida como qualquer acometimento físico que resulte no afastamento do jogador, seja de uma partida ou de um treino, independentemente da maior ou menor necessidade de atendimento junto à equipe médica ou do tempo de afastamento das atividades do esporte (Ikeda e Navega, 2008).

O futebol praticado atualmente deixou de ser apenas um entretenimento para se transformar em negócio ou business; por isso investimentos são feitos pelos patrocinadores, os quais esperam retorno que pode ser imediato ou longo prazo, por meio da exposição da marca. O que se observa muitas vezes é que os maiores investimentos financeiros são feitos em um jogador específico, que é considerado o grande jogador da equipe ou aquele que mais atrai a mídia positivamente.

Quando se fala em futebol, esporte que no decorrer dos anos atingiu grande evolução, um alto nível de performance é exigido das equipes e a necessidade e o interesse de estudos a respeito da modalidade são uma consequência natural (Binotto, 1999). O tema lesão ainda assusta todo profissional do futebol, desde o próprio atleta até a comissão técnica, que em caso de lesões, deve replanejar, dependendo do caso, sua estrutura de trabalho na temporada. Prevenção é um método profilático para evitar uma doença proveniente de lesões ou seu agravamento, caso o mesmo já tiver sido constatado, configurando-se a partir daí uma reabilitação.

Nos últimos anos, o treinamento para jogadores de futebol de alto nível vem sofrendo modificação substancial em relação ao que era feito há algumas décadas. O número de jogos e de horas dedicadas às sessões de treinamentos aumentou significativamente. O calendário do futebol brasileiro é um dos que apresentam a maior quantidade de competições oficiais (torneios) e consequentemente partidas disputadas do mundo.

Uma equipe da Série A do futebol brasileiro disputa em média três a quatro competições oficiais no ano e algo em torno de 55 a 60 partidas em média por ano. Esta situação certamente causa estresse para o organismo do atleta que não consegue se recuperar a tempo de novos estímulos, devido a diversos fatores, tais como: a distância entre as cidades e condições apresentadas, descanso adequado, condições climáticas e período de preparação para a partida; por este motivo outro ponto importantíssimo a ser considerado é a preparação física no início de temporada e posteriormente sua manutenção e equilíbrio ao longo da mesma; desde então, a dinâmica das cargas de treinamento também foi alterada, em decorrência da entrada de novos conceitos para a prática do futebol na atualidade (Leite e Neto, 2003).

 No futebol, observa-se grande contato físico, movimentos curtos, rápidos e não contínuos, tais como aceleração, desaceleração, mudanças de direção, saltos e giros. Por esses motivos, apresenta um alto número de lesões. O futebol é responsável pelo maior número de lesões desportivas do mundo. De acordo com Silva et al (2005), estima-se que as lesões futebolísticas são responsáveis por 50% a 60% das lesões esportivas na Europa e que 3,5% a 10% dos traumas físicos tratados em hospitais europeus são causados pelo futebol (Silva et al., 2005).

O estilo do futebol sofreu transformações, com a substituição da ênfase na técnica (futebol-arte) pelos componentes físicos (futebol-força) e táticos. O futebol atual exige capacidade anaeróbica (especialmente velocidade e explosão muscular) para as ações de jogo e resistência aeróbica para os curtos períodos de recuperação entre ações de jogo.

Como consequência desse novo estilo, os choques são cada vez mais frequentes, aumentando o risco de contusões e lesões articulares. No mesmo sentido, a exigência cada vez maior da capacidade física aumenta o risco de lesões musculares, seja pelo excesso de treinos e jogos, ou movimentos bruscos em curto intervalo de tempo (Raymundo et al., 2005).

Mais da metade das atividades do jogador em uma partida são executadas sem a bola, cerca de 57,6%, enquanto que as restantes 42,4% são executadas com o posse de bola. Sendo que, na maioria dos casos, as lesões traumato-ortopédicas ocorrem durante a posse de bola, quando ocorre a marcação do adversário.

Em um estudo conduzido por Faria (2005), apontou que a lesão que ocorre mais frequentemente nos atletas de futebol é a contusão (pancada, com 33,71%), sendo este o resultado de trauma direto sobre o corpo do jogador, seguido pela lesão muscular (estiramento, ruptura do músculo, com 21,72%) e pela entorse.

A localização mais frequente das lesões é nos membros inferiores, especialmente o joelho (24,30%), seguido pela coxa (21,71%) e pelo tornozelo (12,20%). Os fatores mais comuns predisponentes de lesões no futebol estão associados ao tipo de treinamento, condicionamento dos atletas e outros tipos de fatores isolados (como estado psicológico e fraturas por contato).

Em uma análise epidemiológica das lesões em atletas de futebol profissional do Sport Club do Recife em 2007, constatou-se que em 49 lesões ocorridas em atletas participantes desta pesquisa, os membros inferiores obtiveram 75,51% de prevalência em relação às demais; nos membros inferiores, a coxa demonstrou uma incidência de 40,81%, seguida do joelho (16,31%) e do tornozelo (12,24%); outro dado interessante desta pesquisa foi em relação ao diagnóstico, onde as lesões musculares (51,02%) tiveram a maior frequência, ganhando para as ligamentares (28,57%) e as por trauma direto (12,24%).


Gráfico: Frequência das lesões em relação às regiões do corpo, especificamente
É importante destacar que esta pesquisa foi realizada num Clube específico e com um número determinado de amostras, mas reflete em grande maioria as lesões apresentadas por outros clubes.

Lesões de face, com destaque para cabeça, são as mais preocupantes e que causam mais temor entre os jogadores de futebol devido aos impactos ou "choques" que podem provocar concussão cerebral, haja vista que a Fifa declarou que estas lesões requerem maiores cuidados.

A prevenção é a melhor solução e para tal a Fifa (Fédération Internationale de Football) elaborou quatro medidas a serem seguidas objetivando uma melhor preparação do atleta e prevenção de lesões, que são:

1ª) Aguardar sempre a recuperação total da lesão; lesões mal curadas só fazem aumentar os riscos de novas lesões. Voltar a jogar cedo demais pode ser perigoso caso o seu corpo ainda não esteja pronto para suportar o estresse. Nenhuma partida é tão importante quanto a sua saúde. Converse com o seu médico e fisioterapeuta para tomar a decisão correta;

2ª) Proteja-se com o equipamento adequado; caneleiras protegem a parte inferior da perna de fraturas ósseas durante treinos e jogos. Elas devem ser ajustadas de acordo com cada pessoa, de forma a cobrir toda a região abaixo do joelho tanto em largura quanto em comprimento; em caso de torção no tornozelo, proteja-se com bandagens ou com uma tornozeleira para evitar um agravamento da lesão; goleiros devem usar uniformes acolchoados para proteger quadris, cotovelos e ombros (e joelhos durante os treinos), além de luvas adequadas;

3ª) Fair Play; respeite as regras do jogo, pois elas velam pela saúde dos jogadores, dado que proíbem ações perigosas capazes de causar lesões graves, como, por exemplo, o uso do cotovelo em disputas pelo alto. Os árbitros são orientados a punir rigorosamente os jogadores imprudentes que ignorarem os princípios do fair play;

4ª) Realize exercícios preventivos regularmente; o corpo humano possui mecanismos naturais de defesa contra contusões que podemos exercitar a fim de melhorar a nossa resistência a elas. Programas de prevenção combinam exercícios para treinar essas defesas de maneira estruturada, mas nem o melhor dos programas será eficiente se ele não for colocado em prática regularmente. Incorpore o "11+, um aquecimento completo para evitar lesões" à sua rotina de treinos.

 Referências bibliográficas


1. Binotto, M.R. Análise da variabilidade na medição de posicionamento tático no futebol. 1999. Monografia apresentada ao Instituto de Biociências, UNESP, Campus de Rio Claro, para obtenção do título de Bacharel em Educação Física, 1999.


2. Faria, L. F. Incidência de lesões em jogadores de futebol profissional do Uberaba Sport Clube no campeonato mineiro módulo II. In: XIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2005, São Carlos. Anais XIII Congresso Brasileiro de Biomecânica. Santa Catarina: UFSCar, 2005.


3. Ikeda, A. M.; Navega, M. T. Caracterização das lesões ocorridas em atletas profissionais de futebol da Associação Desportiva São Caetano durante o Campeonato Brasileiro de 2006. Revista FisioBrasil, São Paulo, v. 11, n. 88, p. 11 – 21 , abril. 2008.


4. Leite, C. B. S.; Neto, F. F. C. Incidência de lesões traumato-ortopédicas no futebol de campo feminino e sua relação com alterações posturais. Lecturas Educacion Fisica y Deportes, Buenos Aires, v. 9, n. 61, jun. 2003.


5. Raymundo, J. L. P.; et al. Perfil das lesões e evolução da capacidade física em atletas profissionais de futebol durante uma temporada. Revista Brasileira de Ortopedia, Cidade, v. 40, n. 6, p. 341 - 348, jun. 2005.


6. Santos, R. M. B; Gouveia, F. M. V; Lima, J. E; Azevedo, A. F. Análise epidemiológica das lesões em atletas de futebol profissional do Sport Club do Recife em 2007. Disponível em: http://www.efdeportes.com/ . Acesso em: 22/10/2012.


7. Silva, A. A.; et al. Fisioterapia Esportiva: Prevenção e Reabilitação de Lesões Esportivas em Atletas do América Futebol Clube. In: VIII Encontro de Extensão da UFMG, 2005, Minas Gerais. Anais VIII Encontro de Extensão da UFMG. Belo Horizonte: UFMG, 2005.


*(Aluno de Doutorado do curso de Engenharia Mecânica/Biociências da Unesp – Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – Campus de Guaratinguetá)