sábado, 19 de janeiro de 2013

Lesões no Futebol

As lesões decorrentes do futebol: o que pode ser feito para minimizar esta situação?
A exigência cada vez maior da capacidade física aumenta o risco de lesões musculares.

A capacidade de adaptação do sistema neuromuscular para a execução dos movimentos em diferentes contextos do futebol é um dos fatores determinantes para uma execução eficiente e sem riscos de surgimento de lesões de qualquer natureza. Em todos os esportes, existem lesões típicas que estão diretamente relacionadas aos movimentos envolvidos em sua prática. No futebol, a grande maioria é de natureza leve a moderada, e as mais frequentes são as contusões musculares e as entorses das articulações.

A incidência elevada de lesões no futebol solidificou o interesse dos profissionais de saúde do esporte para a realização de estudos a fim de avaliar os acometimentos sofridos pelos atletas. O entendimento das causas das lesões torna-se imprescindível no futebol atual e uma recuperação bem conduzida e realizada em todas as suas etapas é essencial.

Uma boa recuperação e período de tratamento podem fazer com que o atleta consiga obter o mesmo rendimento ou até melhor do que anteriormente à lesão; é lógico que existem fatores psicológicos a serem considerados, principalmente no período pós-recuperatório de lesão, observado através do comportamento receoso do atleta em se lesionar novamente, e uma incidência desta mesma lesão gera preocupação e pode em certos casos encerrar a carreira de um jogador precocemente, ou tornar o jogador inseguro em efetuar lances que outrora fazia de maneira mais "natural".

A lesão desportiva é definida como qualquer acometimento físico que resulte no afastamento do jogador, seja de uma partida ou de um treino, independentemente da maior ou menor necessidade de atendimento junto à equipe médica ou do tempo de afastamento das atividades do esporte (Ikeda e Navega, 2008).

O futebol praticado atualmente deixou de ser apenas um entretenimento para se transformar em negócio ou business; por isso investimentos são feitos pelos patrocinadores, os quais esperam retorno que pode ser imediato ou longo prazo, por meio da exposição da marca. O que se observa muitas vezes é que os maiores investimentos financeiros são feitos em um jogador específico, que é considerado o grande jogador da equipe ou aquele que mais atrai a mídia positivamente.

Quando se fala em futebol, esporte que no decorrer dos anos atingiu grande evolução, um alto nível de performance é exigido das equipes e a necessidade e o interesse de estudos a respeito da modalidade são uma consequência natural (Binotto, 1999). O tema lesão ainda assusta todo profissional do futebol, desde o próprio atleta até a comissão técnica, que em caso de lesões, deve replanejar, dependendo do caso, sua estrutura de trabalho na temporada. Prevenção é um método profilático para evitar uma doença proveniente de lesões ou seu agravamento, caso o mesmo já tiver sido constatado, configurando-se a partir daí uma reabilitação.

Nos últimos anos, o treinamento para jogadores de futebol de alto nível vem sofrendo modificação substancial em relação ao que era feito há algumas décadas. O número de jogos e de horas dedicadas às sessões de treinamentos aumentou significativamente. O calendário do futebol brasileiro é um dos que apresentam a maior quantidade de competições oficiais (torneios) e consequentemente partidas disputadas do mundo.

Uma equipe da Série A do futebol brasileiro disputa em média três a quatro competições oficiais no ano e algo em torno de 55 a 60 partidas em média por ano. Esta situação certamente causa estresse para o organismo do atleta que não consegue se recuperar a tempo de novos estímulos, devido a diversos fatores, tais como: a distância entre as cidades e condições apresentadas, descanso adequado, condições climáticas e período de preparação para a partida; por este motivo outro ponto importantíssimo a ser considerado é a preparação física no início de temporada e posteriormente sua manutenção e equilíbrio ao longo da mesma; desde então, a dinâmica das cargas de treinamento também foi alterada, em decorrência da entrada de novos conceitos para a prática do futebol na atualidade (Leite e Neto, 2003).

 No futebol, observa-se grande contato físico, movimentos curtos, rápidos e não contínuos, tais como aceleração, desaceleração, mudanças de direção, saltos e giros. Por esses motivos, apresenta um alto número de lesões. O futebol é responsável pelo maior número de lesões desportivas do mundo. De acordo com Silva et al (2005), estima-se que as lesões futebolísticas são responsáveis por 50% a 60% das lesões esportivas na Europa e que 3,5% a 10% dos traumas físicos tratados em hospitais europeus são causados pelo futebol (Silva et al., 2005).

O estilo do futebol sofreu transformações, com a substituição da ênfase na técnica (futebol-arte) pelos componentes físicos (futebol-força) e táticos. O futebol atual exige capacidade anaeróbica (especialmente velocidade e explosão muscular) para as ações de jogo e resistência aeróbica para os curtos períodos de recuperação entre ações de jogo.

Como consequência desse novo estilo, os choques são cada vez mais frequentes, aumentando o risco de contusões e lesões articulares. No mesmo sentido, a exigência cada vez maior da capacidade física aumenta o risco de lesões musculares, seja pelo excesso de treinos e jogos, ou movimentos bruscos em curto intervalo de tempo (Raymundo et al., 2005).

Mais da metade das atividades do jogador em uma partida são executadas sem a bola, cerca de 57,6%, enquanto que as restantes 42,4% são executadas com o posse de bola. Sendo que, na maioria dos casos, as lesões traumato-ortopédicas ocorrem durante a posse de bola, quando ocorre a marcação do adversário.

Em um estudo conduzido por Faria (2005), apontou que a lesão que ocorre mais frequentemente nos atletas de futebol é a contusão (pancada, com 33,71%), sendo este o resultado de trauma direto sobre o corpo do jogador, seguido pela lesão muscular (estiramento, ruptura do músculo, com 21,72%) e pela entorse.

A localização mais frequente das lesões é nos membros inferiores, especialmente o joelho (24,30%), seguido pela coxa (21,71%) e pelo tornozelo (12,20%). Os fatores mais comuns predisponentes de lesões no futebol estão associados ao tipo de treinamento, condicionamento dos atletas e outros tipos de fatores isolados (como estado psicológico e fraturas por contato).

Em uma análise epidemiológica das lesões em atletas de futebol profissional do Sport Club do Recife em 2007, constatou-se que em 49 lesões ocorridas em atletas participantes desta pesquisa, os membros inferiores obtiveram 75,51% de prevalência em relação às demais; nos membros inferiores, a coxa demonstrou uma incidência de 40,81%, seguida do joelho (16,31%) e do tornozelo (12,24%); outro dado interessante desta pesquisa foi em relação ao diagnóstico, onde as lesões musculares (51,02%) tiveram a maior frequência, ganhando para as ligamentares (28,57%) e as por trauma direto (12,24%).


Gráfico: Frequência das lesões em relação às regiões do corpo, especificamente
É importante destacar que esta pesquisa foi realizada num Clube específico e com um número determinado de amostras, mas reflete em grande maioria as lesões apresentadas por outros clubes.

Lesões de face, com destaque para cabeça, são as mais preocupantes e que causam mais temor entre os jogadores de futebol devido aos impactos ou "choques" que podem provocar concussão cerebral, haja vista que a Fifa declarou que estas lesões requerem maiores cuidados.

A prevenção é a melhor solução e para tal a Fifa (Fédération Internationale de Football) elaborou quatro medidas a serem seguidas objetivando uma melhor preparação do atleta e prevenção de lesões, que são:

1ª) Aguardar sempre a recuperação total da lesão; lesões mal curadas só fazem aumentar os riscos de novas lesões. Voltar a jogar cedo demais pode ser perigoso caso o seu corpo ainda não esteja pronto para suportar o estresse. Nenhuma partida é tão importante quanto a sua saúde. Converse com o seu médico e fisioterapeuta para tomar a decisão correta;

2ª) Proteja-se com o equipamento adequado; caneleiras protegem a parte inferior da perna de fraturas ósseas durante treinos e jogos. Elas devem ser ajustadas de acordo com cada pessoa, de forma a cobrir toda a região abaixo do joelho tanto em largura quanto em comprimento; em caso de torção no tornozelo, proteja-se com bandagens ou com uma tornozeleira para evitar um agravamento da lesão; goleiros devem usar uniformes acolchoados para proteger quadris, cotovelos e ombros (e joelhos durante os treinos), além de luvas adequadas;

3ª) Fair Play; respeite as regras do jogo, pois elas velam pela saúde dos jogadores, dado que proíbem ações perigosas capazes de causar lesões graves, como, por exemplo, o uso do cotovelo em disputas pelo alto. Os árbitros são orientados a punir rigorosamente os jogadores imprudentes que ignorarem os princípios do fair play;

4ª) Realize exercícios preventivos regularmente; o corpo humano possui mecanismos naturais de defesa contra contusões que podemos exercitar a fim de melhorar a nossa resistência a elas. Programas de prevenção combinam exercícios para treinar essas defesas de maneira estruturada, mas nem o melhor dos programas será eficiente se ele não for colocado em prática regularmente. Incorpore o "11+, um aquecimento completo para evitar lesões" à sua rotina de treinos.

 Referências bibliográficas


1. Binotto, M.R. Análise da variabilidade na medição de posicionamento tático no futebol. 1999. Monografia apresentada ao Instituto de Biociências, UNESP, Campus de Rio Claro, para obtenção do título de Bacharel em Educação Física, 1999.


2. Faria, L. F. Incidência de lesões em jogadores de futebol profissional do Uberaba Sport Clube no campeonato mineiro módulo II. In: XIII Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2005, São Carlos. Anais XIII Congresso Brasileiro de Biomecânica. Santa Catarina: UFSCar, 2005.


3. Ikeda, A. M.; Navega, M. T. Caracterização das lesões ocorridas em atletas profissionais de futebol da Associação Desportiva São Caetano durante o Campeonato Brasileiro de 2006. Revista FisioBrasil, São Paulo, v. 11, n. 88, p. 11 – 21 , abril. 2008.


4. Leite, C. B. S.; Neto, F. F. C. Incidência de lesões traumato-ortopédicas no futebol de campo feminino e sua relação com alterações posturais. Lecturas Educacion Fisica y Deportes, Buenos Aires, v. 9, n. 61, jun. 2003.


5. Raymundo, J. L. P.; et al. Perfil das lesões e evolução da capacidade física em atletas profissionais de futebol durante uma temporada. Revista Brasileira de Ortopedia, Cidade, v. 40, n. 6, p. 341 - 348, jun. 2005.


6. Santos, R. M. B; Gouveia, F. M. V; Lima, J. E; Azevedo, A. F. Análise epidemiológica das lesões em atletas de futebol profissional do Sport Club do Recife em 2007. Disponível em: http://www.efdeportes.com/ . Acesso em: 22/10/2012.


7. Silva, A. A.; et al. Fisioterapia Esportiva: Prevenção e Reabilitação de Lesões Esportivas em Atletas do América Futebol Clube. In: VIII Encontro de Extensão da UFMG, 2005, Minas Gerais. Anais VIII Encontro de Extensão da UFMG. Belo Horizonte: UFMG, 2005.


*(Aluno de Doutorado do curso de Engenharia Mecânica/Biociências da Unesp – Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – Campus de Guaratinguetá)